quarta-feira, 8 de outubro de 2008

sem cem.


O Rio de Janeiro estava cinza e estranho quando terminei no meio da Avenida Presidente Vargas, minha visita á Macondo. Era como se eu estivesse sido deixada pelo trem de duzentos vagões de mortos no meio do concreto que ultimamente tem me tirado do sério. Senti um medo enorme de ter caído no alto dos meus 24 anos naqueles cem de ciclos intermináveis e irrepetíveis, meu coração se estremeceu e não sei se a cobra da vergonha ou melancolia ou até mesmo do descomprometimento comigo mesma pareceu viva naquele cachecol verde escuro enrolado no meu pescoço. Ele apertava à medida que eu vinha ganhado os metros para chegar até minha casa. Antes de chegar me deparei com os olhos da loucura, ela usava um guarda chuva azul, calça jeans, casaco que não reparei e a cada quatro passos lentos e bem medidos parava para um também não-sei-o-que de pensamentos. Sempre a vejo e sempre desvio olhar para que ela não me mire, não me fixe, não me aprisione com aqueles olhos coloridos de loucura. Coloridos sim, descobri que os olhos coloridos daquela mulher que poderia ser eu ontem, você hoje ou nós dois amanhã são vermelhos dos goles do etílico, amarelos pelas enfermidades que a rua nos presenteia em suas bandejas de papelão, branco-sujos de terra marrom e azulados da complacência com que o tempo lhe tirou de algo, de algum lugar e de alguém e a resignou depois como se cauteriza uma ferida para tentar matar os bichos. O tempo, conluiado como só de nossas desventuras, em série ou não, deu me hoje um grande nó nas válvulas coniventes, acordou e me fez de trouxa, escondeu meus trabalhos da faculdade, fazendo telefonar pra minha mãe e dizer-lhe coisas feias no pilar de minha altivez. Sim, eu sou uma trouxa, não porque o tempo me fez de trouxa, mas porque eu mesma faço, esse mosquitinho da chatice reconhecida interrompida depois de algum tempo por um outro telefonema pedindo desculpas ralas e já conhecidas, fica zum zum zum em cima da minha cabeça fraca.

O medo me impede de terminar esse texto. Portanto, paro por aqui.

Como inúmeras coisas em minha vida que me meteram o dedo na cara e me julgaram certo e eu fechei em livros, bocas coladas, orgulho dissolvido em sonrisal e choro debaixo da luz apagada.

Não quero cem anos assim. Só sei disso que não quero.

Rio de Janeiro, 08.out.08 15:11min





Um comentário:

Fabiana disse...

Gostei da foto, gostei do texto. gosto de chuva e do cheirinho fresco dela. gosto também de vc!
postei a outra foto no meu, passe lá. baci, minha grande e querida Dani "Augusta".