E então, o que é que vai ser, heim?

Esse é o último talvez, o derradeiro cartucho da chacina que aconteceu na minha cabeça, os pensamentos estão mortos.

Os pensamentos estão mortos! – gritou o jovenzinho sujo com botinas gastas exibindo a foto dessa que fala e escreve.

Não sinto mais tanta vontade de escrever, sim André, sei que já lhe falei isso tantas e tantas vezes encostada com a cabeça no seu ombro, mas é que me sinto em um ciclo vicioso de escrita. Agora quero somente ler. Talvez eu queira encontrar alguém que me leia alguém que veja através do vidro e veja como eu porque também é-eu.

Promete para si mesma com uma gargalhada geral de nação [zumbi] desconfiada: essa é a última solidão da sua vida. Sem criar companhia através dos sorrisos treinados em frente ao espelho. Ela treina esse sorriso em determinada hora do dia, determinado dia da semana em determinado momento. E quando chega a hora de por a prova o sorriso ela sempre se atrapalha e mostra o sorriso verdadeiro, aquele que faz o nariz enrugar-se, os olhos baixarem, a cova [rasa] da bochecha esquerda aparecer e a ponta da língua [afiada] tocar entre o que cola o céu [vermelho] da boca e os dois dentes superiores. É, ela não consegue representar nada quando esse sorriso-bilhete chega ao seu destinatário, entrega o jogo [que nunca sabe se realmente faz ou não] e amolece, e se dissolve, e cai pela porta de saída sem saber como está sua cara.

Ela quer sorrir de verdade, com a mesma língua, o mesmo céu vermelho e a mesma cova [rasa]. Os pensamentos estão mortos e eu gosto de você.