quinta-feira, 27 de agosto de 2009

deixa te contar

Eu vou te contar uma coisa nessa carta muito doida que to te escrevendo agora. O vento tá soprando numa velocidade sem igual, cara, as coisas estão voando, papel na ventania já se desfez tem é tempo, as águas estão revoltadaças e o fogo pode lamber a gente a qualquer momento. Mas me disseram por aí que tem gente que tá toda se coçando por dentro pra reorganizar o tempo, tomar banho dessa água calmamente e deixar o fogo lamber deliciosamente sem queimar por completo, assim de cantinho, de pouquinho, pra acalmar mesmo, mas pra sentir também. Essa tal gente por aí, que tá se coçando, acabou virando uma mesma esquina numa mesma hora e se viu, e se olhou, e chegou perto e apertou as mãos: olá, eu to afim de dar uma passeada nesse mundo mas quero companhia, tá querendo? Meu negócio é o seguinte, a gente sai por aí, olha as coisas dum jeito particular, porém parecido e diferente e partilha das nossas cabeças abertas, olhos apontados pra horizontes legais, esperançosos e aí a gente vai se dividindo com as pessoas que forem passando por aquela esquina que a gente se conheceu e convida toda essa gente disposta a viver. É isso mesmo, convidar a viver. A viver mais, melhor dizendo. Que nem criança, que sente cócegas e adora sentir mais... e vai fazer xixi nas calças de tanta felicidade. Ah, toma banho depois, mas primeiro se lambuza disso aí. Eu to com essa gente agora, eu apertei a mão e disse que queria um espacinho entre eles, e eles super sorriram pra mim, cara. Isso tá muito bom, a gente vai esmiuçar o mundo, pedacinho por pedacinho, em todas as coisas bacanas que o homem faz e em todas as coisas não-bacanas que os homens também fazem. Eu to tão animada que to me embaralhando nas coisas, mas espero que você consiga entender o que to sentindo agora. Tenho certeza que a gente vai se dar bem, eu já te freqüento a casa deles, o cara maior o Senhor Clóvis é muito legal, me deixa praticar a vida na casa dele, eu corro descalça e danço com todo mundo. Vai ser bom, te escreverei sempre. Vem aqui um dia. Tenho que correr que agora a gente vai comer sobremesa.

Dani Ribeiro, 27 de agosto de 09.

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Charge

Eu vivi uma noite na taberna, espremida e nervosa por entre suas covas transmitidas ao vivo. Fui servida de um bom vinho, encorpado e de cadência leve, tipo samba na vitrola, tipo metal em clubes de jazz. Escrevi o nome nos meus dedos nervosos como numa lápide de vida e te rendi homenagens: aqui, alive, meu sussurro, e morro um pouquinho, rápido e lento (isso depende de como quero que meus ossos se movimentem).

Me embriaguei e conduzi.

Dormi com um cheiro e acordei com outro, eu quero é ver sua cara respirando por inteiro.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Aquele do violão azul (ou, o azul é ainda maior)


abracei
sentei num banco
(antes)
peguei na mão e sentei num banco
(volta)
abracei
porque naquela praça eu sabia que quem eu abraçaria seria ele
(vai)
dei um poema
(volta)
lí o poema
abracei
(volta)
escrevi com minha letra-nanquim
num papel ecologicamente correto
ele é vegetariano
(volta)
ecologicamente correto, o papel
e lí na praça onde eu sabia que quem eu deveria abraçar era ele
ele merece poemas
eu disse.



quinta feira, 20 agosto.09 02:48p.m